Pesquisas em todo o mundo apontam para o crescimento dos transtornos de ansiedade. Insegurança no emprego, instabilidade nas relações sociais e familiares, preocupação com o futuro, o estresse, acumulo de tarefas, falta de tempo são situações que levam a manifestação da ansiedade. Com o isolamento social esta tendência de crescimento acentuou definitivamente. Uma pesquisa realizada pela Cambridge University reuniu 60 estudos (em total de 226.638 pessoas) constatou uma prevalência global de ansiedade de 21% durante a pandemia.
O sociólogo Zygmunt Bauman definiu que vivemos em uma Modernidade Líquida. Ele fez uma comparação da sociedade atual com o estado líquido que muda com facilidade, é flexível e está em constante mudança. As estruturas sociais não são mais sólidas como eram no passado, hoje a possibilidade de divórcio é maior, mudança de emprego é uma comum na vida das pessoas. Toda esta incerteza que temos sobre nosso futuro nos traz a ansiedade.
Além disso recebemos mais estímulos do que antigamente. Cada vez mais estamos a frente de telas de celulares, computadores e televisão. Então nos preocupamos com a vida de outras pessoas nas redes sociais, tentando preencher o vazio que a vida é nos coloca. Esquecemos de nós mesmos e no final descobrimos que não sabemos quem somos. Como lidar com toda a informação existente que não podemos ter controle? Será que estamos no caminho certo? Minhas escolhas estão sendo certas para minha vida?
Para superar essas angústias precisamos buscar o conhecimento, se possível através de uma ajuda profissional. O psicólogo é o profissional com que você vai poder se abrir sobre suas angústias e te ajudar pôr em prática estratégias para tornar sua vida mais equilibrada. Conforme o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) os transtornos de ansiedade se diferenciam do medo e da ansiedade adaptativa pelo tempo de duração, sendo mais persistentes (ex., 6 meses ou mais). Podemos elencar 9 tipos de transtornos de ansiedade.
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Transtornos de ansiedade generalizada (TAG )
O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado pela preocupação excessiva diante de diversas atividades, independentemente de ser avaliado ou não. Ocorre em um período de pelo menos seis meses na maior parte dos dias. 6 sintomas podem surgir como inquietação, cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e dificuldades com sono. Em adultos há uma preocupação em circunstâncias de sua rotina do trabalho, saúde, contas a pagar ou um possível grave acontecimento em sua vida e também de familiares.
É raro o aparecimento do transtorno antes da adolescência, a idade média do início do transtorno é de 30 anos. Quanto antes iniciar os sintomas pior são as possibilidades de agravamento e aparecimento de comorbidades com outros transtornos de ansiedade. Quando ocorre em crianças e adolescentes o distúrbio se apresenta com preocupação excessiva com competência ou qualidade de desempenho.
Transtorno de pânico
Transtorno de pânico ocorre quando um surto abrupto de medo de forte intensidade em minutos. Pelo menos 4 destes sintomas são manifestados: taquicardia, falta de ar, náusea ou desconforto abdominal, dor ou desconforto torácico, tremor, sensação de asfixia, tontura, sudorese, calafrio ou calor, formigamento, sensação de estar distante de si mesmo, medo de perder o controle e medo de morrer. Geralmente está relacionado a preocupações físicas (doenças), preocupações de constrangimento e preocupações relacionados ao funcionamento cerebral. Outro tipo é o pânico noturno que ocorre de 1/4 a 1/3 dos indivíduos com transtorno de pânico.
Podemos classificar os ataques de pânico em esperados e inesperados. Se durante a ocorrência não existe um indício claro, parecendo surgir do nada durante o sono ou relaxado este é o ataque de pânico inesperado. Todavia se o motivo de desencadeamento é obvio o ataque de pânico é classificado como esperado. A idade média inicial do transtorno nos Estados Unidos é de 20 a 24 anos. Os adolescentes são menos dispostos do que adultos em relatar os ataques de pânico.
As principais consequências do transtorno de pânico incapacidade social, incapacidade física e profissional; aumento dos gastos econômicos; maior número de consultas médica entre os transtornos de ansiedade. Além de apresentarem elevada taxa de comorbidade com outros transtornos mentais e suicídio. Quanto mais sintomas apresentar o indivíduo maior será suas limitações, piorando consecutivamente sua qualidade de vida.
Transtornos de ansiedade social
Os transtornos de ansiedade social podem ser definidos como medo ou ansiedade desproporcional a real ameaça diante de uma situação social e contexto sociocultural. A fobia social se manifesta em situações sociais em que o indivíduo é exposto a uma possível avaliação de outras pessoas. Tem medo de ser avaliado negativamente. Preocupando-se em ser visto como medroso, desagradável, fraco, sujo ou maluco. O indivíduo evita beber, comer, apontar ou escrever em público por medo de tremer as mãos.
Alguns podem ter uma postura corporal muito rígida e contato visual inapropriado. Podem ser retraídos e tímidos e serem alvo de bullying durante na infância e adolescência. Este transtorno é frequentemente comorbido com outros transtornos de ansiedade, depressão e transtornos por uso de substâncias. A idade média de início do transtorno de ansiedade social nos Estados Unidos é de 13 anos de idade, sendo muito raro o início na vida adulta. Durante o período de um ano 30% dos indivíduos apresentam diminuição dos sintomas.
Transtorno de ansiedade de separação
Este transtorno se apresenta com medo e ansiedade excessiva persistente referente a uma preocupação a separação de casa ou de figuras de apego. Também se preocupam com eventos indesejados com pessoas de apego ou consigo mesmas como ser sequestrado, ou sofrer um acidente. Devido a este medo de separação se recusam a sair sozinhos.
Manifestação em adultos
Os adultos são excessivamente preocupados com medo da separação de filhos e cônjuges. Por isso tendem a ser dependentes e super protetores. Na vida desse indivíduo é comum o ressentimento e conflitos familiares, apresenta com frequência comorbidade com TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), fobia específica e transtornos da personalidade.
Manifestação em crianças
O transtorno de ansiedade de separação em crianças pode ser herdado ou desenvolvido após um momento de estresse extremo, como uma perda de parentes ou animal de estimação, mudança de escola, divórcio de pais, mudança de casa. Crianças com este distúrbio apresentam comportamento de serem sombras dos seus pais. Precisam de companhia para ir a outros cômodos da casa. Exigem companhia também na hora de dormir, principalmente da figura com quem tem apego.
A criança pode ter sonhos repetitivos com a perda de familiares (ex., assassinato, catástrofes). Dores de cabeça, dores abdominais, náusea e vômito são sintomas comuns em crianças quando ocorre a separação ou quando anunciado a separação futura. Estes sintomas podem durar por pelo menos 4 semanas em crianças e adolescentes. Apresenta alta comorbidade em crianças com TAG e fobia específica.
Agorafobia
Agorafobia é um transtorno de ansiedade situacional. Pode ocorrer em 5 situações: uso de transporte público; estar lugares abertos; estar espaços fechados; permanecer em uma fila ou no meio de uma multidão; e sair de casa sozinho. Diante destas situações o indivíduo apresenta um medo descomunal e apresenta comportamento de esquiva. Quando experimentam as situações agorafóbicas pensam que algo horrível irá acontecer, sendo muito difícil ou impossível escapar. Um terço dos indivíduos com agorafobia tem incapacidade para trabalhar e em sua a maioria deles possui comorbidades com outros transtornos mentais.
O medo ou ansiedade pode parecer com um ataque de pânico apresentando vários sintomas ou até sendo completos. Para diferenciar deve identificar se o indivíduo possui comportamento de esquiva para duas ou mais situações agorafóbicas. Dentre os transtornos de ansiedade fóbicos agorafobia é a que tem maior relação com o fator genético apresentando herdabilidade de 61%. Se o indivíduo com fobia social vive em isolamento social crônico é possível proceder o transtorno depressivo.
Fobia específica
A fobia específica é um transtorno de ansiedade característico com medo acentuado de objeto, animais ou situação (ex., avião, elevador, aranhas, cobras, água, altura, sangue, pessoas fantasiadas). Segundo DSM-5 75% dos indivíduos com fobia específica temem mais de um objeto ou situação. O sentimento do medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo efetivo. Eventualmente a fobia específica se devolve após a participação ou observação de um evento traumático. Porém muitas pessoas não conseguem lembrar o motivo do inicial do medo. A maioria dos casos se inicia antes dos 10 anos de idade.
A manifestação em crianças pequenas pode ser expressada choro por medo ou ansiedade, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento de agarrar. A prevalência é mais baixa em pessoas mais velhas, entretanto é possível seu desenvolvimento em qualquer idade, principalmente após experiências traumáticas.
Mutismo seletivo
O mutismo seletivo é um fracasso em conversar em situações sociais específicas, apesar de falar bem em outras situações. Este transtorno inicia-se frequentemente antes dos 5 anos de idade, as crianças não iniciam conversa ou respondem quando os outros falam com ela. Crianças com mutismo seletivo se negam a falar na escola, esta circunstância pode prejudicar no seu desenvolvimento escolar.
Os relatos clínicos sugerem a superação de mutismo seletivo em muitos indivíduos, porém os sintomas de ansiedade social tendem a permanecer. Geralmente crianças que tem mutismo seletivo possui habilidade de linguagem normal, porém só falarão diante de pessoas da família.
Distúrbio de ansiedade induzido por substância/medicamento
O transtorno de ansiedade induzido por substância ou medicamento têm sintomas de ansiedade e pânico. Eles aparecem durante ou após a intoxicação ou abstinência da substância/medicamento. A intoxicação ou abstinência originária do transtorno pode vir do uso de: estimulantes (cocaína, cafeína) álcool, cannabis, alucinógenos, opioides, inalantes, fenciclidina, sedativos ou outras substâncias. O diagnóstico pode ser realizado com ajuda de exames laboratoriais medindo o grau de intoxicação da substância no indivíduo.
Transtornos de ansiedade devido a outra condição médica
Os transtornos de ansiedade devido a outra condição médica podem ser ocasionados por início de doenças como: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças endócrinas, doenças neurológicas, distúrbios no metabolismo. Após a ocorrência de uma destas condições médicas é que se desenvolver este tipo de transtorno, porém a prevalência ainda é incerta. Para fazer o diagnóstico é necessário avaliações laboratoriais ou exame médico.
Tratamento para os transtornos de ansiedade
Um estudo levantou dados de 23 pesquisas em 21 países para entender a aderência ao tratamento em indivíduos com transtorno de ansiedade. Apenas 27,6% receberam algum tipo de tratamento e 9,8% receberam um tratamento adequado. Quanto menor a renda do país menores são os índices de tratamento. Esses dados demonstraram que milhões indivíduos em todo o mundo estão vivendo preocupados, ansiosos muitas vezes incapacitados para trabalhar sem ter algum tipo de tratamento para assisti-los.
Atenção plena
Uma meta analise( publicado Journal of Consulting and Clinical Psychology) realizada com 39 estudos sugere que a atenção plena é moderadamente eficaz para melhorar a ansiedade. O método usado é se concentrar no momento presente, evitando que as lembranças do passado interfiram com pensamentos negativos. Uma técnica de medição bem usada é concentrar-se na respiração. Inspirando e expirando o ar por alguns minutos.
Exercício físico
A prática de exercício aeróbicos por 8 semanas demostrou ser um tratamento eficaz para melhorar os sintomas dos transtornos de ansiedade.
Terapia cognitivo comportamental
A terapia cognitivo comportamental irá auxiliar o indivíduo identificar os sintomas físicos durante exercícios propostos. Geralmente o medo tende a diminuir, aumentando as chances de concluir o exercício.